A situação de Uberlândia nesse momento da pandemia, sem sombra de dúvidas, é gravíssima, principalmente quando se analisa a enorme demanda pelos serviços de saúde e o número elevado de mortes causado pela pandemia do COVID-19. No dia 13/03/2020 foi noticiado nos meios de comunicação que “Uberlândia registrou nos dez primeiros dias de março mais mortes pela Covid-19 do que nove estados brasileiros e o Distrito Federal, que têm populações maiores que a cidade mineira, com quase 700 mil habitantes”. Destacamos que esses números são verdadeiros e que essa notícia, somada as informações sobre as ações de controle da doença e atendimento à saúde divulgadas, são instrumentos importantes de auxílio na árdua luta de conscientização da população sobre a gravidade dessa pandemia, tendo em vista sua letalidade, seus impactos na saúde, nos serviços públicos e na economia.
Nesse contexto, com o intuito de contribuir, nas respostas às possíveis críticas, baseadas apenas em números absolutos, sem considerar os aspectos geográficos locais, trago a seguinte análise:
Considerando os aspectos acima citados, principalmente o respeito a vida, destacamos que a referida reportagem em sua análise, ao não considerar números absolutos em detrimento aos aspectos geográficos dos estados em comparação a Uberlândia-MG induz, numa primeira análise, conclusões, em termos epidemiológicos e sociais, que não representam a dinâmica de disseminação (contágio) da doença nos diferentes tipos de espaços geográficos.
Pesquisas já realizadas sobre o COVID-19, bem como informações repassadas pela OMS, apontam que cidades com grande concentração populacional tendem a enfrentar mais dificuldades de impor medidas de controle relacionadas a mobilidades de pessoas, isolamento e distanciamento social. Medidas essas essenciais, além da higienização constante das mãos e uso de máscara, para evitar a disseminação da doença. Em contraponto, populações isoladas no espaço rural, bem como cidades com baixa concentração populacional, a baixa mobilidade das pessoas e o distanciamento geográfico tornam-se barreiras importante no controle da transmissão do vírus.
Nesse sentido, comparar números absolutos de mortalidade de populações de grandes centros urbanos, com números de mortalidade que inclui populações que residem em grande número em pequenas cidades e/ou no espaço rural, merece ser visto com ressalvas, quando utilizado no planejamento de ações, bem como na divulgação de informações sobre o comportamento epidemiológico da doença (Quadro 01).
Outro ponto importante de salientar é que esse é o momento de pico da pandemia em Uberlândia. Se esse mesmo recorte tivesse sido feito em agosto ou em dezembro de 2020, os comportamentos da pandemia seriam completamente diferentes, afinal, cada cidade tem seu pico em semanas e meses diferentes.
Além disso, de forma objetiva, se população de Uberlândia fosse distribuída em pequenos núcleos urbanos, como distritos e também no espaço rural, imitando, assim, a distribuição populacional dos Estados e Distrito Federal utilizados para comparação, a curva de contaminação e o número de óbitos, dada às medidas protetivas adotadas pelo município, tenderiam também a ser menores, cujo número, infelizmente, nessa fase da pandemia, não é possível de precisar.
Brasil – Taxa de população rural, urbana e números de municípios por unidade da federação, 2020
Posição | Unidade Federativa | Taxa Pop. Urb. | Taxa Pop. Rural | N. Municípios |
1º | Rio de Janeiro | 96.71 | 3.29 | 92 |
2º | Distrito Federal | 96.62 | 3.38 | 30 Reg. Adm. |
3º | São Paulo | 95.88 | 4.12 | 645 |
4º | Goiás | 90.29 | 9.71 | 246 |
5º | Amapá | 89.81 | 10.19 | 16 |
6º | Mato Grosso do Sul | 85.64 | 14.36 | 79 |
7º | Paraná | 85.31 | 14.49 | 399 |
8º | Espírito Santo | 85.29 | 14.51 | 78 |
9º | Rio Grande do Sul | 85.10 | 14.90 | 497 |
10º | Santa Catarina | 83.99 | 16.01 | 295 |
11º | Minas Gerais | 83.38 | 16.62 | 853 |
12º | Mato Grosso | 81.90 | 18.10 | 141 |
13º | Pernambuco | 80.15 | 19.85 | 185 |
14º | Amazonas | 79.17 | 20.83 | 62 |
15º | Tocantins | 78.81 | 21.19 | 139 |
16º | Rio Grande do Norte | 77.82 | 22.18 | 167 |
17º | Roraima | 76.41 | 23.59 | 15 |
18º | Paraíba | 75.37 | 24.63 | 223 |
19º | Ceará | 75.09 | 24.91 | 184 |
20º | Alagoas | 73.64 | 26.36 | 102 |
21º | Sergipe | 73.51 | 26.49 | 75 |
22º | Rondônia | 73.22 | 26.78 | 52 |
23º | Acre | 72.61 | 27.39 | 22 |
24º | Bahia | 72.07 | 27.93 | 417 |
25º | Pará | 68.49 | 31.51 | 144 |
26º | Piauí | 65.77 | 34.23 | 224 |
27º | Maranhão | 63.07 | 36.93 | 217 |
Cidade | Uberlândia-MG | ≅ 97% | ≅ 3%. | 1 |
Fonte: IBGE, 2020.
Obs: Unidades da Federação que tiverem número de óbitos inferior a Uberlândia-MG, nos primeiros 10 dias do mês de março de 2021.
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